Entenda como a ideia de felicidade, as redes sociais e as soluções rápidas às frustrações e angústias da vida estão relacionadas
O sentimento de exaustão é generalizado. Ao final de cada ano, há a sensação de que o tempo passa mais rápido e de que a quantidade de metas segue aumentando. Nas redes sociais, mensagens motivacionais, rotinas agitadas e conquistas são compartilhadas todos os dias.
Atualmente, a felicidade está atrelada à ideia de bem-estar. Quando o mal-estar se instala, a solução é logo apresentada por coaches, especialistas em produtividade e outros profissionais. No entanto, há que se questionar: essa é uma solução sustentável no longo prazo?
Entendendo as dinâmicas sociais
A economia do mal-estar está diretamente relacionada às dinâmicas sociais atuais. Durante muito tempo, a felicidade foi vista como uma checklist composta por sucesso no trabalho e boas relações familiares. A trajetória deveria ter sacrifícios e sofrimento para que a recompensa fosse alcançada no final.
No entanto, essa narrativa mudou na sociedade da informação. Hoje, a preocupação dos indivíduos está focada na jornada e, muitas vezes, esquece-se da linha de chegada.
As mídias sociais abrem um espaço para que as jornadas sejam compartilhadas e admiradas. As conquistas passaram a ser validadas na internet e o sistema de metrificação é preciso: curtidas e comentários revelam o sucesso de mais uma etapa concluída.
Essa dinâmica on-line cria uma ideia equivocada de que todo mundo está bem o tempo inteiro, gerando uma competição entre os usuários para mostrar quem está mais feliz. Os resultados são opostos: índices de depressão, ansiedade e insatisfação seguem crescendo.
Brasileiros estão insatisfeitos com a vida atual
Uma pesquisa realizada pela Consumoteca, em parceria com a Epiphania e Trop, revelou que os brasileiros são os mais infelizes entre os países que participaram do levantamento: 58% estão insatisfeitos com a vida atual e oito em cada dez pessoas possuem projetos que não conseguem tirar do papel.
A economia do mal-estar surge para suprir essas necessidades: 52% dos entrevistados seguem perfis motivacionais como forma de alcançar a felicidade e 65% consomem conteúdos de aprimoramento social. Livros de autoajuda são companheiros de 35% dos entrevistados.
Economia do mal-estar e trabalho ininterrupto
A narrativa do empreendedorismo está mais forte do que nunca. É comum encontrar textos e publicações na internet exaltando as características de alguns empresários bem-sucedidos e dizendo que todos podem desenvolvê-las. Na prática, esse discurso coloca toda a responsabilidade dos sucessos e fracassos em um único indivíduo.
“Trabalhe enquanto eles dormem” é um dos bordões das palestras motivacionais. A mensagem transmitida pela economia do mal-estar é de que todos podem alcançar resultados excelentes, desde que haja treinamento e dedicação. Não à toa, livros de autoajuda, processos de coaching e eventos de desenvolvimento pessoal fazem tanto sucesso.
Diante disso, é importante analisar a ideia de reinvenção permanente que alimenta a economia do mal-estar. Segundo a pesquisa realizada pela Consumoteca, 57% dos profissionais acham que vão precisar reinventar sua carreira nos próximos anos e existe toda uma indústria que promete ajudar nesses processos de transição.
Fugir do sofrimento causa sofrimento
Como foi abordado no início do texto, a sociedade atual associa felicidade ao bem-estar, principalmente àquele mostrado nas redes sociais. Nesse contexto, existe uma tentativa de fuga constante do mal-estar.
Frustração e decepção não são sentimentos agradáveis. Entretanto, é possível observar que existem pessoas que não vivem uma vida plena porque estão evitando esses sentimentos. Muitos fogem do mal-estar porque acreditam que o bem-estar é a regra — quem usa as redes sociais consegue entender essa lógica.
No entanto, evitar o sofrimento gera mais sofrimento. Ao fugir de situações arriscadas e com potencial de mudança, o indivíduo também se frustra. Assim, a economia do mal-estar continua sendo alimentada, em um processo contínuo que oferece soluções pontuais e, muitas vezes, passageiras.
Fonte: Redação